sábado, 15 de novembro de 2014

Mono(tonia)(grafia)

Pra mim, já começa errado com o nome.
Eu sou super desconfiada das palavras que começam com mono. Eu tenho a impressão de que todas elas são chatas: monopólio, monocelha, mononucleose (que eu não sei o que é, mas parece uma doença bem chata), monótono, monocultura.

Mas o pior não é nem o pré-conceito nominal, é o pós.

Chamar de monografia, de um, e depois, ainda chamar de meu, me soa bem hipócrita. Se eu não posso falar 2 parágrafos sem citar alguém, como eu posso chamar esse trabalho de meu - e o pior - de exclusivamente meu?
E aí vai eu, fingindo ser eu, pseudo-sendo-citando esse tanto de gente que eu nunca vi mais gorda, que eu nunca olhei nos olhos e troquei uma ideia. Tá, eu posso até concordar com as afirmações de TAL, etc. e; mas eu nunca vou saber o que eles tavam pensando quando chegaram naquela conclusão, porque eles decidiram estudar aquele tema e se eles se sentiram hipócrita como eu, escrevendo aquele livro/artigo.

E o pior vem depois. Pra mim, o pior MESMO é continuar chamando de monografia, enquanto calo as milhões de vozes que gritam dentro de mim. Vozes de pessoas que - aí sim - eu já vi mais gorda, mais magra, já olhei nos olhos e troquei infinitas ideias. Pessoas que estão tão dentro de mim que vão sair em cada verbo que eu ousar fazer ou conjugar e que eu não só não posso dar crédito como tenho que fingir que não estão ali.

São essas pessoas que estiveram comigo - mesmo que não saibam - em cada fase boa ou ruim da minha trajetória e que fizeram valer a pena. São essas pessoas que sonharam comigo um mundo melhor e diferente e são delas que eu lembro com dor quando penso que não vou fazer nenhum dos dois com essa monografeia. São essas pessoas que eu queria carregar numa foto de bolso e mostrar todas as vezes que alguém me pedir meu diploma (que eu nem sei se vai servir pra alguma coisa pra mim no fim das contas). São essas pessoas que eu carrego com o orgulho do sucesso conquistado.

Me pergunto se essas pessoas também não carregam essa frustração burocrática também. E se carregam, o que é que elas fazem com isso?

Meu mochilão parecia pesar muito menos. E eu me pergunto se algum dia vou conseguir me despir de todo esse peso pra carregar só ele mais uma vez que seja.

Me pergunto se vou voltar a ver o brilho dos olhos dos seres depois de ter as vistas quase que cegadas por 6 meses diretos de um brilho artificial da tela do computador. É, desse mesmo brilho que vos fala agora.

Me dói cada palavra escrita em que não me encontro, cada expressão que não me representa e muito menos me expressa. E dor essa que me imponho pra conseguir formar. Pra conseguir caber num fôrma que não me cabe e que eu nunca quis, por querer sempre ser maior que os limites que os outros me propõe.

Me limito sem limites no momento. Limito meu tempo, limito meu sono, limito cada passo, cada cerveja, cada distração. Limito cada sentimento e limito até os limites pra não pirar e, com isso, correr o risco de não me impor mais limite nenhum.

O único sentimento que eu tenho é um vazio calculado pra não sentir antes do tempo certo. A academia nunca acreditou na emoção mesmo e eu não sinto nem mais o processo de racionalizar mais sobre o que eu sinto. Se sentir é perigoso, viver é ainda mais, já diria ROSA, Guimarães.

Então não vivo. Porcamente eu sobrevivo. Há em mim algo de não-vida típica do robô que, mais uma vez vos fala e sublinha de vermelho cada palava que eu ouso inventar fora do vocabulário dele.

Postergo a minha felicidade pra quando essa história toda acabar. E seria tranquilo se eu tivesse a certeza de que quando ela acabasse seria mesmo o fim. Fica o pânico de estar sempre postergando essa tal felicidade - pra depois do expediente, pro fim de semana, pras próximas férias, pra aposentadoria.

Me formo uma cientista social con-formada com honra ao mérito, pra desmérito meu. Faço o favor de me adequar ao sistema sem que o sis-tema com a minha presença dentro dele. Implodir, nesse momento, só se for a mim mesma por não aguentar a pressão.

Mas aí vem Durkheim, chama isso de anomia e nem a morte eu tenho de minha mais.

Tenho só a morte lenta do leão de cada dia, a morte sufocada de cada sonho não realizado no período do acordodado. Do acordo que eu nunca fiz, do contrato social que eu não assinei e, cujo social, eu não concordei em burocratizar.

Tenho, enfim, a morte cerebral do eu sentimental que aguarda, em coma, e sem calma, a esperança de voltar a vida quando isso tudo acabar.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Pra ser Ipê

No trânsito do dias-há-dias é o Ipê-amarelo que tem florido meus dias pelo caminho, me lembrando que tem algo de cor entre o cinza da cidade.
É ela também que tem me feito pensar sobre muitas coisas, e é também por isso que escrevo.
Em primeiro lugar, por ser amarelo. A cor amarela, ao mesmo tempo que representa energia e vitalidade, é a cor que representa "atenção" no sinal de trânsito. O estudo das cores também alerta para que o excesso de amarelo pode causar distração e ansiedade.
Sempre associei a minha personalidade cores alegres como o vermelho, o laranja e o amarelo. E ultimamente tenho sentido muitas dificuldades de repensar o excesso do amarelo na minha vida e tentar trazê-lo para o signo da atenção. Do ato de desacelerar.
Além disso, estou tentando ser Ipê. Ipê é uma árvore e, como tal, é fixa. É da natureza da árvore ficar no mesmo lugar toda a sua vida e, mesmo assim, florescer e se perpetuar. Essa sou eu tentando encontrar dentro de mim mesma a minha parte árvore e procurar florescer mesmo estando estagnada no mesmo lugar enquanto é tempo de estar assim.
Mas, mais do que isso tudo, tenho tentado ser Ipê, por sua característica especial (e, porque não, seu charme). Ela tem tempos distintos. Para o Ipê, há tempo de folha, há tempo de flor e há tempo de seca, em que só se vê no Ipê galhos tortos e secos. Tenho tentado olhar pro Ipê e saber que, para além desse tempo estranho que eu venho vivendo, há em mim, em algum momento passado e futuro, o meu tempo de florescer.
Quem é brasileiro e conhece o Ipê desde pequeno sabe que, na época certa aquela árvore feia e sem-graça vai ser só flor e só cor e todo mundo por aqui ama o Ipê. E, ultimamente tenho agradecido ao universo a sorte de ter por perto (ainda que seja um perto de um oceano de distância) pessoas que se esforçam pra me convencer que, como um ipê, eu vou florescer de novo,na primavera seguinte, mesmo me sentindo seca e torta no momento.


Pra ser Ipê, é preciso saber,
Que equilíbrio não está em ter
Tudo ao mesmo tempo.



Pra ser Ipê, é preciso entender
que há tempo pra plantar
e tempo pra colher.



Ser Ipê é ver,
que é preciso se conhecer
e simplesmente,
ser.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Quem dera ser um peixe

Tem dias que a gente se sente um pedaço de nada.
Dá um vazio, e o peito bate num cansaço arfante de buscar alguma coisa no ar que seja mais que oxigênio.
O desespero de não sentir nada por vezes é mais cruel do que a dor de sentir dor e a gente segue, galgando as esperanças de ser, seja o que for, pra algum dos seus, pra si mesmo.
Ah, ser humano da natureza torta que tem, então no próprio nome a obrigação de ser.
Quem dera ser qualquer outra coisa, pra não ter que ser...
De preferência ser um peixe, pra existir nesse nada-nada
Nada...
Nada.
Nada!

E ir indo por aí, até onde eu quisesse nadar.

domingo, 23 de março de 2014

Pé de manga

Se eu te contar minha vida debaixo de um pé de manga
A pé de pano
Vou dando pano pra manga
Pra poder te mostrar
Essa ferida que não estanca
Esse meu coração que sangra
Obrigado a desacreditar

Se é assim que a banda toca
Vou fazer a minha dança
Que é pra ver se você se toca
E cola junto na mudança
Pra poder desordenar

E por falar em cola
E em ter que sair da escola
Me explica a matéria de história
Mais parece treta de gente de fora
Que nada tem pra acrescentar
E os moleque que faz as prova
Cheio de história pra contar
Cê vai fingir que ignora
Só porque não cai no vestibular

Pois eu decidi escutar
Fazendo diferente
Eu quis improvisar
E achei que era só gentileza
Mas Paulo Freire chamou de boniteza
E disse que tinha um nome pra dar
Ao direito a não-certeza
Ele chamou de educação popular
E eu, que achei que não tinha nada pra ensinar
No dever de aprender
Compartilhei o meu viver
E quem sabe um dia eu chego lá

Interagindo,
Vou agindo entre os seres
Pelo poder de lutar
Atuando
E compartilhando os saberes
Pelo direito de acreditar
Na transformação
Ponho cor e ação
E pelo sim, pelo não
Vou me agarrando a mão
De quem também sofre

dessa patologia de sonhar

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Reparando

Se você reparar bem, eu sou mulher.
Mas também sou ser humano,
é parceiro, eu sangro.
E não tem essa de talvez,
eu sangro é todo mês.
Como eu tava dizendo pra vocês:

sou mulher.


Sou esse ser que controla a libido.
Esse mesmo do pêlo proibido
e pelo dito, não dito,
assumo, às vezes me inclino
mas não duvido,
e digo de pé:
meu segredo amigo,

é que eu sou mulher.


Sou mulher de família,
mãe, avó e filha,
mas sou mulher de guerrilha,
da luta de todo dia,
pelo direito de não lavar vasilha,
pelo direito de virar poesia.
Mas do jeito que eu quiser,
da poesia que eu fizer,
daquela que diga: hei, sou mulher!
Mas também sou gente.
Pra além do corpo eu também tenho mente
e é mente pensante,
sou mulher militante,
de combate constante,

e vem você, querendo me por no tanque?

Então me põe no tanque de guerra.

Sou bela, sou fera.
Eu sou de luta,
uso roupa curta.
Nem santa, nem puta,
eu sou o que vier.
É, eu sou mulher.

E faço do meu jeito.
Olha no meu olho,
dá descanso pro meu peito.
Deixa que nele eu bato
pra dizer:
sou ser humano nato!
Eu peido, eu trepo e eu cago,
mas não vago.
É que eu morro de medo,
de alguém achar que pode fazer comigo o que quiser,
se descobrir meu segredo,
e reparar que eu sou mulher.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Qualquer maneira de amor vale a pena

E me dói o coração o meu medo de te dizer o fatídico "eu te amo".
E o engraçado é que nem é o medo clássico de amar alguém.
é porque eu amo (você) demais.
Mas tenho medo que esse, em específico soe como se valesse mais do que os outros "eu te amo"(s) que eu espalho por aí;

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Purê novo de batatas velhas

É que em tempo de calma,
tempo de maresia.
Nada muda, e não há nada a se fazer.
Nesse arrastar do dia-a-dia,
senão um purê.
Amassar, misturar, o leite jogar.
Para fazer parecer
que tem algo de novo no ar.
E, mesmo com dificuldades se convencer.
Não há outro jeito de viver.
As batatas estão ali há tempo demais.


Mas agora são purê.