domingo, 30 de dezembro de 2012

Sabe-se lá, sabiá.

Um dia desses da vida,
numa vida dessas, diárias,
eu perdi meu chão.




Foi nesse dia, então,
que eu aprendi a voar.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Desafinado

Desculpa se meu canto dói nos seus ouvidos,
desafiando, desafinado.
Mas é que ele vem direto do coração,
sofrido, desrritmado.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Natureza humana

Nem tudo que é torto é errado.
Se assim o é, me vejo aqui, tentando realizar minhas podas devagar.
Com calma, eis-me aqui, tentando tirar o que é errado sem temer o espinho da flor e o mal necessário.
Que eu me adapte a minha tortura, pra que ela não me torture mais.
Para que, assim eu consiga curtir minha natureza própria, linda como as árvores do cerrado.

domingo, 18 de novembro de 2012

Ontem eu passei mal

Ontem eu passei mal,
passei muito mal.
Ontem eu vomitei,
muito!

Ontem, agachada sob a cerâmica,
nas três vezes de pedaços de tempo que soaram infinitos,
as lágrimas dos olhos vindas do esforço viraram choro.

Ontem, enquanto meu estômago parecia querer virar do avesso,
tentando desesperadamente botar pra fora o inexistente,
já que nada mais ali havia,
eu me perguntei o que, de fato, meu corpo quis tanto expulsar.

Ontem eu passei mal,
passei muito mal.
Ontem eu vomitei,
você!

domingo, 4 de novembro de 2012

Choveu

Aí fica sempre aquela expectativa: Será que é hora de brotar algo desse jardim?
E esse sensação de que somos só poeira no vento? Como fica depois que a poeira abaixa?
Será que eu deveria estar me perguntando alguma coisa que eu esqueci o que é?

Será que se o tempo passasse para trás ainda poderíamos falar em 'passar'?
Será que ainda devemos tentar alcançar o céu?
Será que se quero estar com você eu devo responder por alguma coisa?
E posso ficar sem responder se eu não quiser estar?

Depositar sua essência em alguém é complicado porque esse alguém anda, fala, pensa e tem seus próprios problemas.
E nesse meio tempo, quem é você afinal?
Se eu decidir que cansei de ser quem eu sou, ainda continuo sendo eu mesma?

Será que se a chuva caísse de cima pra baixo ainda poderíamos falar em cair?

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Lavando a roupa suja

Estou presa numa máquina de lavar roupas, que não se desliga nunca.
Cansada de ficar batendo pra lá e pra cá nesse conforto tão dolorido, típico da inércia.


Por favor, parem o mundo que eu quero descer!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Lobo-mau?

E, na boa, príncipe encantado?
Faça-me o favor.
Você está em histórias demais, tem gente demais a sua espera para viver o 'felizes para sempre'.
Então, muito obrigada, mas eu fico com o Lobo-Mau.
No máximo ele vai sair por aí atrás de uns porquinhos.
Daí, tudo certo, eu os frito e como torresmo.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Eu gosto é de gente

Eu gosto é de gente que não tem cota de sorrisos por dia.
Gosto de gente que se diverte com pouca coisa,
que é capaz de gargalhar mesmo lavando um banheiro.
Ah é, eu gosto de gente que lava banheiros.

Eu não gosto de gente que grita. Que parece que quer impor sua opinião.
Mas não tenho problema com quem fala alto.
Só não gosto de gente que não gosta de gente que fala alto.
Eu gosto de gente que não liga pras palavras erradas que eu falo, ainda que não consiga perceber que eu as falo zuando.

Eu gosto de gente que dança mesmo aquele estilo de música que não gosta.
Eu gosto de gente que dança de olhos fechados.
Eu gosto de gente que dança.
Que canta e que bate palma.

Eu gosto de gente que não tem frescura.
Gosto de gente que não gasta o dia falando de outras gentes.
Eu gosto de gente que ri quando deve chorar,
e não vive, apenas aguenta.

Gosto de gente que se apaixona sem freios.
Ainda que seja por animais, por plantas, por projetos.
Ou por si próprio que seja.
É só não gostar mais de si do que dos outros o tempo todo.

Eu gosto de gente.
Eu gosto de gente que gosta de gente.
Eu gosto de gente que gosta de gente que gosta de gente.

domingo, 19 de agosto de 2012

Nem toda feiticeira é corcunda

Nem toda sogra é uma bruxa, nem toda madrasta é má.
Nem todo casamento é feliz, nem toda separação é triste.
Nem toda ex é megera, nem toda atual é vagabunda.
Nem todo cabeleireiro é veado e nem todo veado é cabeleireiro.
Nem todo político é corrupto, nem toda mulher quer casar.

Nem toda balada é boa, nem todo amigo pede dinheiro emprestado.
Nem todo cristão odeia os gays, nem todo cientista social é maconheiro.
Nem todo americano é patriota, nem todo brasileiro gosta de futebol.
Nem todo amor dura para sempre, nem todo amor é sinônimo de compromisso.
Nem todo carinho é sincero, nem toda mãe é mãe.

Nem toda ofensa ofende, nem todo pedido de perdão é difícil de fazer.
Nem todo fã de restart é novo, nem todo pagode é ruim.
E nem todas as músicas dos Beatles são boas também.
Nem todo clichê é ofensivo, nem toda generalização é sem sentido.
E nem todo texto tem um significado escondido.

sábado, 18 de agosto de 2012

Hora da Partida II

Me assombra essa vontade louca
de ir embora.
Sinto que já passou
da hora.

Preciso ir,
pra crescer,
de verdade viver,
em paz.

E aí, talvez voltar,
com consciência de que
não vou encontrar nada melhor,
em nenhum outro lugar.

E talvez ficar.
Montar um ninho de palha macia,
temporário,
pra poder partir de novo
n'outro dia.


"E no mais, estou indo embora!"

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Classificados

Meu nome é Fernanda, tenho 20 anos.
Sou estudante de ciências sociais duma universidade em greve e sem previsões de retorno.
Estou absolutamente cansada de defender posturas políticas que nem sei se tenho.
Procuro alguém que aceite carinho sincero, sem segundas intenções, e que se comprometa a não discutir assuntos políticos, filosóficos ou qualquer um desses "assuntos da vida".
Ah, também não tenho um tostão, portanto não posso nem te pagar um chá.
Ofereço, sem promessas de bis, sem conotação sexual, num lugar gratuito.
Trocando em miúdos, quem aí aceita um cafuné enquanto falamos besteiras? Melhor ainda seria se não falássemos nada.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Soro caseiro tem gosto de lágrima

E há algum bom tempo, mas não tanto tempo assim;
eu imaginava minha vida, transportava  minha alma pra situações modelos inexistentes.
Sofria e curtia emoções que não eram minhas.
Simultaneamente a conformidade acalentava meus dias feudais
Sempre iguais.


Hoje, uma janela se abriu.
Não que vou ser capaz de realizar todas as coisas que sonhei.
Mas num mix intenso de medo e alegria imensa.
Sinto saudade daquilo que estou vivendo!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Seja bem-vindo.

Seja bem-vindo de volta, Tommy.
Agora você não me assusta mais.

Meu lago não é mais inviolável, sinta-se a vontade pra chegar.
Favor só respeitar as regras.

A sensação não é mais vazio, é plenitude.
Não é mais tédio, é paz.


Se eu não enxergo, é porque tirei meus óculos;
Se não escuto é porque o meu fone de ouvido está ligado, no último volume.

Não me sinto mais atrelada/atolada a nada.
E é exatamente isso que me faz feliz.

Vem aqui, Tommy, que eu quero te contar.
Parece até que eu consegui!
Hoje eu não quero nada mais.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Água mole em pedra dura



O primeiro passo na rua coincidiu com a primeira lágrima. Mas só.
No segundo passo as lágrimas já estavam em perda de contas.
E durante todo o percurso passos e lágrimas se somavam nesse descompasso ritmado e incoerente.
As gotas de chuvas rareadas se misturavam com a água dos olhos, diluindo um pouco o sal que ali havia.
Que sensação poderosa!

Não, não vou ter a ousadia de dizer que estava tudo bem. Estava tudo mal, tudo péssimo.
A tristeza brotava do fundinho do coração e insistia em se liquefazer sem que atravessasse a ponte da mente.
Mas alguma coisa havia mudado e em meio ao turbilhão de emoções essa não pode ser ignorada.

Metaforicamente, era a mesma sensação de mergulhar num só pulo em uma cachoeira em pleno inverno.
A água é tão gelada que chega a machucar, dói no fundo, nos ossos.
Mas há algo nessa sensação que funciona tão bem quanto um tapa na cara:
ACORDE! VIVA! SINTA!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Chocolate.

Mariana nunca gostou de chocolate. Páscoa? Era só mais um dia pra ela.
Até que virou diabética.
Não poder mais comer chocolate não deveria ser problema. Mas, por algum motivo, não poder é bem mais dolorido que não querer.

Filmes sobre chocolate, músicas recheadas do bendito! Todo mundo tão apaixonado pelo doce que o assunto parece ter que girar em torno dele. Às vezes parece até que quem não come chocolate não vive.
Chegava-lhe os mais diferentes cheiros, as mais diversas imagens e opções.

Mariana queria, sofria, desejava. Ressaltava em tom de praguejo a sorte das pessoas que podiam se deliciar com aquela maravilha, provocante e saborosa. Quanta vontade! Quanto desejo não realizado.

Até que um dia resolveu chutar o balde. Aos ares a glicose, a insulina, a dieta. Esse dia em especial sua relação com o chocolate não se pautava mais nos verbos querer/poder. O verbo desse dia era precisar. Um bombonzinho de nada não ia lhe matar, afinal de contas.

Comprou, se escondeu e (finalmente!) devorou com uma mordida só. Que M-A-R-A-V... Não, não, pera aí. Cadê aquele êxtase? Cadê aquela sensação inacreditável que todo mundo afirmava, reafirmava e prometia?

Finalmente Mariana se lembrou que tinha se esquecido que não gosta de chocolate! Que coisa não? Ela até acredita que as pessoas realmente amam chocolate como dizem que. Mas, pra daí acreditar que ela também ama, mesmo sem amar é meio demais.

E ela sabe que pode até ser que em algum dia distante ela ameace achar que quer chocolate, por querer aquelas sensações prometidas de prazer. e pode até ser que algum dia passe a gostar de fato. Mas hoje ela tá tranquila. Hoje não há chocolate, mas também não resta nem um pedacinho de angústia, nem um tablete de vontade.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sabe o que eu acho?

Que eu acho demais!
E no meio dessa bagunça toda,
eu não consigo encontrar nem um pedacinho de mim.






"Fui ficando esquisito,
com a fartura de conflito,
vou vivendo o não dito
e vivendo as intemperes,
de uma dor que é tão difusa...
Torna as tardes inconclusas,
desencanta os meus sentidos,
e desmente o que se vê." 
 (Vou mandar pastar!  - Tó Brandileone)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Vai ver se eu tô lá na esquina.

Devo estar.

Porque na esquina tem bar, tem mais,
tem música, tem poesia.
Lá não tem preocupação 
com quem já fui um dia.

Quando lá se está,
Só se está lá.
Afinal, lá mais do que se está,
Se é.
Sem medos, sem anseios,
homem ou mulher.
Faca de dois gumes,
incerteza que não se assume.
Que não se teme, que não se treme.
Que está gravada no seu gene.

Lá se afoga o sufoco,
entre vários copos,
entre vários corpos.

Assim é a minha esquina,
com mil almejos de menina.
Entre som e sonhos,
se iludir e flutuar:
uma festa sem fim,
até a hora de acabar!

domingo, 10 de junho de 2012

Aquilo que realmente importa.

Que mania besta de querer acelerar meu coração quando ele tem os motivos mais tranquilos pelos quais bater.

Tenho tudo que preciso, das melhores coisas. Para além de casa, comida, e coisas materiais, sou imensamente abençoada com os mais diversos e imensos amores.

É tanta gente que cerca, que nada me cobra, que nada pede... Que me conhece exatamente como eu sou e que me ama mesmo assim... Não é possível que todas elas estejam enganadas. Ou que estejam, pouco importa. O que realmente importa é fazer parte disso tudo.

O que realmente importa é um abraço forte. Tranquilo, porém sincero. O que realmente importa é um beijo, breve que seja, mas que contenha toda a expressão de carinho. O que importa mesmo é ouvir uma voz que acabou de se descobrir. É uma vista bonita, uma risada que não tenha hora pra acabar.

Então pra quê se preocupar com tanto demais que não está dentro disso? Pra quê procurar incessantemente pelos óculos se eles já estão em sua face? Pra quê se ansiar com a alteração de velocidade do pulsar?

Aquilo que realmente importa é uma mordida de boca grande na sua fruta preferida, as diferentes cores de um por-do-sol. É ouvir uma melodia suave de um violão e sentir a perna doer de tanto dançar, correr, brincar ou fazer aquilo que te agrada e te faça mover.

Cansei de temer, de querer mais do que eu tenho. Até porque que frase sem sentido, eu tenho tudo!

Eu tenho aquilo que realmente importa!

sábado, 2 de junho de 2012

Subi o morro,

e não é que tudo de repente fez sentido, é só que o que não fazia sentido não me preocupava mais.

O espaço era aberto, o dia claro, e eu não podia pedir mais. O vento frio não me incomoda, ele me lembra o poder que há em sentir.

Lá de cima as luzes piscam e tremulam nossas verdades tão bem delimitadas.

Lá de cima os problemas continuam existindo. Só que eles ficam tão pequenos quanto as pessoas que lá embaixo estão.

A respiração é mais lenta, o tempo é mais calmo.

Lá em cima tem um espelho. Ele continua refletindo todas as coisas que param na frente dele, assim... angustiantemente, inutilmente.

Mas lá em cima seu reflexo parece mais amplo, assim... mais honesto.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Existindo em excesso

Não devia ser assim.
Era pra ser fácil, natural,
Essencial.

Mas é tudo demais. É pensar demais, planejar demais, estratégias que eu não consigo mais comprar.
É gente demais na minha cabeça, sobra pouco espaço para o Sol, enquanto eu pego o ônibus azul.

É uma necessidade constante e cruel de saber as delimitações do meu corpo, dos meus gestos, das argumentações. De se saber onde se está e porque se está. De alguma maneira estar mesmo quando já se foi embora.

Cansa a mente. Cansa a alma.

Meus olhos estão pesados, meus ombros sobrecarregados. Meu coração pulsa com a preguiça de quem chegou em casa depois de uma maratona, ele anda batendo rápido demais por motivos tão lentos...

Não era pra tirar o fôlego, não era pra sobrecarregar o meu bulbo com a obrigação de respirar sozinho. São tantos porquês, e porquês não, e eu não entendo porque.

Eu exagero. Eu exijo da minha própria existência limites que não sei se seria capaz de suportar

É só existir. Era pra ser simples. Assim, entre uma respiração e outra.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Fui ali


Quer saber de uma coisa? Cansei!
Cansei de assumir o tamanho que as pessoas insistem em me dar.
Me recuso a ficar no seu campo de visão porque sua vista é limitada.

Meu mundo é colorido demais pra você que faz questão de manter as coisas preto-e-branco?
Então me faz um favor? Vamos manter nossa interação monocromática. Porque meu mundo eu não descoloro mais, a não ser por decisão própria.


Quer saber mais? Passarinho com penagem bonita também canta.
E eu não vou ficar de bico fechado quando o que eu mais gosto de fazer na vida é cantar.

Passarinho que bate asa não fica parado em gaiola que não tá trancada.
Demorou, mas finalmente eu percebi isso.
E ninguém me tranca mais, amigo.
Então, me dá licença? Fui ali voar, e não volto.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Casa de vó.

E estou crescendo.
É, eu cresci.

Aquele caminho, que ainda me parece distante, não chega nem perto da impressão de distância que antes tinha.
Vai ver minha ansiedade de chegar é menor.

E chegar é sinônimo de relembrar e me confrontar com o passado, com as melhores lembranças.
Apesar de estar satisfeita com o que me tornei, a dor da nostalgia vem, com a realidade daquilo que perdi e daquilo que deixei de ganhar.

Mas gosto de pensar que ainda há em mim, partes de essência pura de criança que ainda não se foram.
Uma delas é pensar que sempre vou ter o gostinho da água, do melhor que é, daquele velho filtro de barro.

Sobre Filtro de Barro, com o Hélio.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Queijo e vinho tinto.

Uma sexta de vazio e desânimo.
Acho que o único programa que me animaria seria estar numa casa com cortinas bem escuras, uma boa companhia, queijo e vinho tinto. Intimidade e música boa completariam o pacote.
Só substituiria, talvez as cortinas.
Nem precisaria ser numa casa, também.
Quanto ao queijo e ao vinho, é só porque eles são clichês mesmo, uma boa comida e bebida já me deixaria feliz.
Quer saber? Suspende a companhia e a intimidade.
A música boa pode deixar, isso a gente nunca pára de querer!

terça-feira, 24 de abril de 2012

Vou te amar pra sempre, hoje.

Num quarto só nosso, carícias, amor, risadas e confluência de ideias.
Eu posso te morder e vou, em todas as partes que alcançar.
Afinal, todas suas partes são minhas e vice-versa.
De tanto rolarmos pela cama, lençol nenhum fará sentido.
Afinal, porque vestir a cama se o plano é ficarmos nús em todos os espaços possíveis?
E, lá pro fim da tarde já não vai dar mais pra distinguir o que são suas ou minhas coxas, o que são mãos e o que é bunda, boca e corpo.
Nos empenhamos até sermos duas poças de suor, duas poças de satisfação, sem delimitação precisa.
Vem comigo aproveitar mais e outra vez, aproveitar tudo que for possível.
Porque hoje acabará, como todos os outros dias.
E a partir daí, será "foi bom enquanto durou. Muito obrigada, e até nunca mais."

domingo, 15 de abril de 2012

Toda forma de amor vale a pena.

Tudo bem então coração.
Vai insistir em manter esse ritmo regular,
essa tranquilidade pálida?
Tudo bem então, coração.

Vamos ver como fica essa situação.
Não vou simplesmente aceitar que você mais ou menos bata,
vou te jogar e te sentir no diafragma.
Vou me alongar, me mexer e sentir sua pulsação.

Vou me jogar no palco,
me jogar do palco.
Explorar meu corpo e por ele ser explorada.
Quero pausas, quero almas, quero salsa, 
sangue, suor, aplausos.

Não vem que não tem coração.
Não posso mandar em você, mas posso te exercitar.
Quero mais alegria, mais energia,
quero calor e força nas suas estrias.

Quero mais, não quero parar.
Quero criar, me esticar.
Quero cantar, dançar, atuar.
Quero me jogar, sem medo.

Podemos ficar em paz então?
Quero a arte, quero amar demais
E pelo sim, pelo não,
Pulse como nunca, querido coração.

sábado, 14 de abril de 2012

Isso não é uma maçã.

Não tem cheiro,
Não tem caldo,
Não tem textura,
Não tem gosto.
Isso não é uma maçã.

Isso é uma escova de dentes.
Isso é o pecado original.
Isso é o orbe ausente.
Isso é a gravidade.


Isso não é,
Isso está sendo.

Então vamos aproveitar,
a beleza da sutil imperfeição humana.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Hora da Partida I

"Êta gado bom, êta terra bem cuidada, tem tudo pra colheita e também para a boiada. 
Olha o pinto crescendo, o orgulho da galinhada. Vejam arroz e batata, milho, couve e agrião, tem de tudo nessa roça, dá de tudo esse chão.
Isso doutor Araújo, muito mais força pra terra saúde pra criação."
"Jornaaaliiiismo."

CLICK

- Fui.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

hai Cai a humanidade

Para sermos humanos
É preciso sermos seres
que não são.

domingo, 25 de março de 2012

Mercedes-Benz


Não me considero uma pessoa consumista.
Caminhando pela rua com amigos me espanto em ver a admiração deles por carros caros de design arrojado. Entorto o canto da boca e dou de ombros, como quem diz, não vejo graça nenhuma e nem entendo bem a graça que vocês vêem.
Enfim, nunca fui de me impressionar.
Ferraris, BMWs, lamburguinis... nada disso me despertava o menor interesse.

Até que apareceu na minha vida uma Mercedes.
E tudo mudou.

Ela linda! Amarela. (dizem por aí que a cor do meu ano é amarela).
Tão imponente, tão impressionante!
Parece fazer questão de parecer simples para gostarmos mais dela, mas sabemos o tanto de parafusos e rodas dentadas que ela tem e como funcionam de maneira tão perfeita.

Ela não é minha de fato. Não é de ninguém. Essa Mercedes é dela mesma. E só.
Mas está ali sempre para todos e eu sinto que é só eu precisar e ela vai aparecer.

Fico feliz só de estar perto dela.
Talvez se um dia você tiver a oportunidade, poderá me entender...
Me divirto horrores de andar com a Mercedes.

Essa Mercedes amarela não é cara como uma BMW ou uma Ferrari.
Mais que isso, ela não tem preço.
E acho que é por isso que eu a amo tanto.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Religião


Para quê tanta briga sobre a maneira certa de se chegar ao céu, se cada um sempre vai jogar a pedrinha do seu jeito?

Open your eyes

Open your eyes...
It's that simple.

Open your eyes,
and look to your self.

Everything that you're looking for,
you can find there.

Come on, open your eyes.
I know you're scared,
but it's wonderful, believe.

Dig deep inside,
never stop.
But keep your eyes open down there.
Always.

Then, when you find peace and truth love,
spread to others.
Eye to eye.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Céu de estrada

É, de todos, o mais bonito dos céus.
Não só porque ali não se apagam as estrelas por causa da iluminação artificial das cidades - mas de fato isso o torna maravilhoso.
O brilho intenso das estrelas livres pra existir representam alguma coisa, seja a expectativa da ida, ou a realização da chegada.
E quanto mais longa a viagem, maior a expectativa/realização e mais tempo de céu de estrada

E é esse momento de, não-estar, ou de não-lugar, em que não consegue-se dormir e sobra de coisa pra fazer a contemplação - e nela seus pensamentos te invadem e se apresentam, um por um, por nome e profissão.
Não tem como ignorá-los e ligar a televisão, não há para quem ligar para que suas vozes sejam suprimidas por outrem, é a hora de vê-los, de ouvi-los, de encará-los.
Mas, sem medo, ainda faltam horas de viagem e a sensação é que sobrará tempo para resolver todas as questões - você está sem sono mesmo.

De repente, as estrelas parecem brilhar mais ainda.
É para que você ainda as perceba enquanto conhece a si mesmo.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Parabéns, passarinho!

Parabéns, passarinho.
Hoje você ganha
o direito de voar sozinho.

Mas há algo que não me deixa contente
É eu parar pra pensar...
Se você sempre foi independente,
agora, então, pra onde você vai voar?

Não que eu queira te prender,
Nem por um segundo.
Passarinho meu,
quero que conheças o mundo

Só não quero que sumas,
promete que vai voltar?
Ou ainda que não voltes,
Promete pra sempre lembrar?

Parabéns passarinho.
O céu é seu, pode conquistar.
Mas lembre sempre do seu ninho
E daqueles que aprenderam a te amar.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Meu coração é do tamanho de um trem.

e do mesmo material.
Frio e inflexível.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Exposto

Menos que existi, passei.
Pálida e em branca nuvem.
Vivi, sim, mas sobraram só as marcas do lado de cá.
O que lá meses me levaram, ainda me pergunto se não passaram de doces devaneios de uma mente confusa.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ritual de passagem

Aconteceu tudo muito rápido. Tão rápido, que qualquer tentativa de descrever aqui, vai parecer que não foi tão rápido quanto foi.
O portão abriu. O cachorro fugiu; cheirou o menino que se levantou assustado. Aí começou a confusão: Pega, segura, agarra! "Vou descer pra pegá-lo".
Não ouvi, arredei o carro pra frente pra ajeitar a situação e tudo se desencontrou ainda mais.
"Minha filha, seu irmão!". Foi pé na porta, porta na testa, grito de cá, grito de lá, o sangue escorrendo sem parar. E o cachorro ainda do lado de fora.
"Satanás, pra dentro. Ai meu deus, Rimão, vou lavar seu corte! Calma mãe, vou buscar um copo d'água. Já disse mãe, FICA CALMA!"
Corre de cá, corre de lá. Liga pro parente pra levar pro hospital, não tô em condições de dirigir!
Já no carro, que me dou conta de tudo, parece que a ficha cai. Que confusão, Deus meu, isso sim é confusão. E com os olhos marejados de lágrimas, pelo susto, pela culpa sem dolo, começo a reparar algo de estranho. Minha mãe xingou até minha quinta geração. Até o Satanás pareceu me olhar com algum ressentimento. Mas ele, a vítima, meu caçulinha, não falou nada. Ele não chorou. Ele não me xingou e perguntou se eu estava louca como teria feito com tanto gosto há alguns (meses?) tempos atrás.
Ele não pareceu morrer de medo. Nem raiva. Até a parte da dor parecia estar um pouco ausente daquele rosto. E de repente chegamos no hospital. De repente porque eu perdi grande parte do caminho. Esqueci de olhar pra janela, olhando pros olhos do meu irmãozinho que não choravam.

Já no hospital, não quis saber. Pus a parenta pra ficar com a minha mãe - tava cansada de ouvir desaforo! - e entrei na sala com ele. Meu bem ia tomar ponto; e eu tinha que estar lá com ele. Não só porque fui eu que causei o acidente, fui porque ele precisava de proteção. E eu estava ali pra ele. Como sempre.

Na hora da dor procurei sua mão - que não procurava a minha. Segurei-a e esperei sentir o momento da agulhada no aperto que viria a seguir. E nada. Abri os olhos: com a outra mão ele segurava a maca. E era ela quem recebia todo o reflexo da dor.

E nesse momento fui obrigada a perceber como as coisas haviam mudado. Eu sempre estaria ali pra oferecer minha mão a ele, e vice-versa, eu sei, mas o que ele parecia querer dizer é que era a minha vez de apertá-la.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Clichê

Nunca fui boa em gravar rostos. Minha memória se restringe a músicas, momentos, números de telefone.
Mas o seu eu nunca esqueci, de nenhum detalhe. Mais do que pelo tanto que você foi especial pra mim, seu rosto sempre me soou tão clichê, tipo ideal de um personagem extremamente duro, mas doce, sábio e cheio de amor-não-explícito pra dar.
Lembro do cabelo - se ainda grisalho somente por alguns fios escuros que resistiram ao descolorimento -, tão bem penteado para trás, claramente por pente bem fino e preciso.
Lembro do rosto, num enrugado que exigia respeito, e bronzeado, dos muitos sóis já vividos.
Lembro da roupa, social, sempre tão impecável, mesmo nos momentos mais doloridos do fim da vida.
Nunca vou esquecer do bigode, tão perfeitamente desenhado, combinando com a barba bem feita. A impressão que eu tinha quando pequena é que de pêlo facial, só lhe nascia o bigode, nunca a barba.
Lembro da sua risada contida, dos ossinhos saltados, frágeis, contrastando com sua aparência firme.
Talvez a única coisa que eu mudaria seria o cigarro no canto da boca. Substituiria, talvez, por um cachimbo, ou um cigarro de palha. Mas não tiraria aquilo que te fez tão mal, no fim das contas.
Acho que o que eu achava mais bonito em você era a composição perfeita de tudo isso que fez de você o meu clichê preferido.