terça-feira, 2 de agosto de 2016

Souer

Eu nunca imaginei
que a vida fosse me dar tamanhoo presente.
que eu fosse descobrir
um pedaço de mim
em alguém tão diferente
(Pelo menos aparentemente)

Descobri numa gringa
algo mais que um irmã
em você, guapa, eu sou.
Te vejo e sejo,
ontem, hoje, e amanha
e sinto que por onde você for
eu também vou.
que nem peito e sutiã


é quase como se eu tivesse visto
os lugares que você já viu
mas é que na verdade eu conheço
essa angústia de quem partiu
esse medo de ficar no mesmo lugar
essa vontade de querer voltar
e quando ninguém parece me entender
eu me vejo em você
e sei que eu não vou mudar.


me vejo em cada angústia sua
me vejo, vendo ela passar
me vejo te recontando a minha
e te aconselhando,
quando é sua vez de me aconselhar

E tudo isso que vou vendo,
me permite ser imensa
porque através de você
eu tenho mais formas de ir sendo.
e aí, quando a ggente pára e pensa,
é como se eu começasse a crescer
toda vez que eu te ver crescendo.

É como se eu fosse samba
cada vez que você dança
É como se eu me encontrasse
com minha parte mais adulta
e a outra mais criança

E essa parte sua
que eu trago aqui
me dá força pra ser eu mesma
pra lutar e nunca desistir.
É que depois que te conheci
ficou mais fácil sobreviver
porque eu sei que tem outra parte de mim
em algum outro lugar
me impulsionando a viver
(E não me deixando parar de sonhar)

domingo, 15 de maio de 2016

O Velho e o Novo





13 de maio,


Paulo Afonso,
Maria Bonita.

Hoje, apesar de um dia de datas confusas, foi o dia em que bati asas para nutrir raízes.
Ultimamente, são esses os encontros que mais me agradam. Ultimamente, os Re-encontros tem me agradado muito.

Bateu o prazer do bater de asas, que sempre me preencheu por si só. Mas, agora tem sido mais que metaforizar a ideia do ar, em busca de águas.
Tem sido uma descoberta de que essa imagem do ar, para ver a água como forma de reconexão com as terras tantas e o nutrir do fogo interno.

Hoje, no lugar mais ao norte que já fui em território brasileiro, me senti muito perto de casa.

Sentada na beira do Velho Chico, me surpreendi com o tanto que ele me pareceu novo. Um sentimento paradoxal de que eu já sabia todas aquelas histórias que ele tinha pra contar, mas que nunca as tinha ouvido antes.
É um misto de reouvir as histórias de sua família que você já sabe de cor, com o gosto da novidade, Reouvi-las de alguém diferente, ou ouvir um detalhe novo daquele mesmo contador de histórias de sempre.

E descobrir que ele tem ainda muito mais pra te contar do que jamais se sonhou ouvir.

Hoje, apesar do café da manhã ter sido cuscus o invés de broa e pão de queijo, o feijão do almoço tinha gosto de roça.

E roça tem gosto de casa.

Eu já conheci o exercício de sair de si, e do conforto do conhecido. Já sabia tudo o que nele há de bom e de viciante. Hoje esse exercício se encontrou com o da introspecção e reconstrução interna.

Hoje não fui nem rio, nem mar. Fui pororoca.

Tenho aprendido a carregar (e a ser) ambas energias, tão diferentes e tão complementares. Tão calmantes e revigorantes, apesar de doce e sal.
Viajar sempre se tratou de partir e descobrir. Expandir e voltar pra casa ainda maior!

Desde que parti sem data pra voltar, tenho aprendido a ser minha própria casa. A ser minhas histórias e minhas vivências.

Tenho aprendido a ser cada banho de rio e de mar.
Tenho aprendido, no meu próprio reencontro, a força de ser encontro.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Namoradeira

Tem horas que eu queria saber desenhar,
pra retratar cenas
Significativas,
Silêncios soando poemas
Tipo a cena da janela,
eu olhando você
olhar através dela.
Um café, um cigarro,
Um suspiro e um pigarro
de quem acabou de acordar
Sou eu olhando de dentro
seu olhar pra fora
É tempo de minuto
transformado em hora
Por não ter pressa pra acabar
Minha musa inspiradora da manhã
é ela:
A cena d'eu olhando você
acordando
e olhando a janela

Maria-vai-com-as-outras

Descobri que queria ser
(D)escritora de cenas
Pintando poemas
Que não saberia desenhar
Tipo a menina que caminhava
Tão pequena, mas tão forte,
Vai sabendo da sorte
que lhe carregava
Por ser livre a beira-mar
Por isso ela não vai sozinha:
Lhe acompanham 3 cachorrinhas
que tão livres quanto,
poderiam estar
em qualquer outro lugar.
No fim da noite, vão as 4 meninas
verdadeiras amigas,
felizes e protegidas
porque assim decidiram estar.
Essa menina uma vez,
Veio me dizer de um tristeza
Profunda e certeira
que insistia em lhe acompanhar.
Mas eu só a vi com boas companhias,
Lindas, com muita firmeza
E uma dose maior de leveza
naquela noite sem luar.
Vi um montão de boniteza
Caminhando com uma certa incerteza
de quem sabe sim,
onde quer chegar.
Mas que pode acabar parando
Ela e quem mais estiver acompanhando
No centro final
de um qualquer lugar.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Filosofia da Saudade

A saudade sempre esteve na minha vida, com tantas cores e formas...
E eu a senti muito presente, às vezes conhecendo até um novo lado dela, percebendo que já sentia esse novo tipo de saudade há muito tempo, só não sabia que nome dar.
Há a saudade clássica, de quem se foi, dividida em duas categorias: a mais doída, de quem se foi pra nunca mais voltar e aquela que acompanha a expectativa do reencontro.
Há a saudade de um tempo bom, e até de coisas pelas quais se tinha carinho, que marcam esses tais tempos bons.
Ainda, saudades muitas vezes difíceis de assimilar e nomear, mas algo como a saudade daquele momento perdido, a saudade de tudo o que eu não vivi, a saudade dos lugares que eu ainda não visitei - até porque não só porque eu nunca tive que eu não vou sentir a dor da perda, ora!

Em 2013 eu vivi aquilo que chamei de 'saudade coletiva': é quando quem está longe é você, portanto sente saudade de tudo e todos, quando morei em Portugal por 6 meses. Lá conheci gente do mundo inteiro e conversei muito sobre saudade. Era um sentimento que estava sempre por perto naquele momento. Me impressionava o fato de que as pessoas que não falavam português não tinham em seu vocabulário a palavra saudade. Tinham expressões próximas para alcançar esse sentimento: 'Tu me manques", "Nostalgique", "Te extraño", ou "I miss you". Literalmente essas palavras remetem mais ao sentimento da nostalgia, ou do 'sinto sua falta'. E eu tentava explicar: "Nostalgia não é saudade."; "Sinto sua falta não é saudade"!
Brincava comigo mesma dizendo: 'saudade é coisa de brasileiro mesmo'.
Claro que os estrangeiros sentem saudade e tem recursos próprios para expressar esse sentimento. Mas foi impossível não vincular a 'saudade' à uma característica típica da cultura brasileira - molda e é moldada por ela.

Fiquei tão curiosa sobre o fato que voltei determinada a estuda a saudade. Fazer um artigo sobre. Cheguei até a tentar pesquisar e catalogar quantas músicas brasileiras trazem o verbete em alguma estrofe. Sem êxito na missão, larguei pra lá: Mas posso dizer, com segurança que são muitas! E até hoje, pelo que já vi e vivi, ninguém vive a saudade como nós, povo tupiniquim. Nunca fiz uma pesquisa sobre - e ainda bem que isso não é um artigo científico -, mas sei. Sei e sinto.

Acontece que a saudade é um sentimento misto por excelência. Mistura o doce e o amargo, o amor e a distância. É o sentimento híbrido de nostalgia e esperança que preenche um coração marcado pela falta. Talvez seja por isso então que a saudade combina tanto com o povo brasileiro: Somos um povo misto de nascença!
Sentimento também marcado pela temporalidade, nessa mistura que é só dele. É um sentimento do instante presente que, no entanto, só existe pelas marcas do passado. Se considerarmos ainda a esperança do reencontro que esse carrega, temos o tempo futuro evocado pela saudade, sensação forte e nem tão fácil de entender.

Talvez seja por isso que a saudade me venha como um sentimento tão confortável, apesar das dores que já me causou. Por me confortar nesse processo de ser em transformação que somos todos, mas que me alcança com mais intensidade, por ser alguém que busca essa transformação. Nessa natureza viajante que não consigo abandonar, de metamorfose ambulante, que eu prefiro ser (como diria o Raul)

Foi essa mistura doida e intensa que me atingiu ontem. Vivenciando mais uma vez a saudade coletiva, longe de tantos que amo e tantas experiências que amei ter vivido, recebi um presente sem preço! Meio presente, meio passado e muito futuro! Pelo menos foi o que disse meu grande amigo, companheiro e namorado Marcelão, quando explicou o objetivo desse presente: ter fé no futuro e em coisas sempre melhores, que com certeza virão. Para nós. Bonito e complexo como a saudade, esse presente de fato deu fé: fé no passado, de como todos esses amores que me trouxeram até aqui me fortalecem e me dão a certeza de que tudo valeu a pena. Me fez ter fé no presente, por me ver extremamente grata, de ser quem eu sou, de estar onde estou e de não faltar ninguém: estar com alguém que além de ombro-amigo e porto-seguro, consegue compreender a boniteza e a complexidade disso tudo; e me faz uma surpresa dessas!
Surpresa que me faz olhar pra frente, depois de várias espiadas no passado, na certeza de que sim, o futuro carrega pra mim, o melhor da vida. Afinal, se tudo o que eu tenho é resultado do que plantei no passado, vejo o ciclo me permitindo, no futuro, um tempo de gratidão por esse presente que ainda não passou; Sementinha de coisas boas que planto enquanto me satisfaço com a fartura da colheita de agora, de tantas sementes já cultivadas.

Um milhão de obrigadas a quem fez parte disso, todo mundo que mandou alguma coisa, mesmo que tenha sido em formato de bons pensamentos, porque o tempo às vezes trai a gente!. E um agradecimento ainda mais especial à semente que, mal plantei e já me rende os melhores frutos, brincando de ser essa ponte linda entre minhas saudades, alegrias e esperanças; entre as conquistas do passado, as emoções do agora e as esperanças pro futuro!
Gratidão povo, gratidão mundo! Gratidão eterna!

sábado, 15 de novembro de 2014

Mono(tonia)(grafia)

Pra mim, já começa errado com o nome.
Eu sou super desconfiada das palavras que começam com mono. Eu tenho a impressão de que todas elas são chatas: monopólio, monocelha, mononucleose (que eu não sei o que é, mas parece uma doença bem chata), monótono, monocultura.

Mas o pior não é nem o pré-conceito nominal, é o pós.

Chamar de monografia, de um, e depois, ainda chamar de meu, me soa bem hipócrita. Se eu não posso falar 2 parágrafos sem citar alguém, como eu posso chamar esse trabalho de meu - e o pior - de exclusivamente meu?
E aí vai eu, fingindo ser eu, pseudo-sendo-citando esse tanto de gente que eu nunca vi mais gorda, que eu nunca olhei nos olhos e troquei uma ideia. Tá, eu posso até concordar com as afirmações de TAL, etc. e; mas eu nunca vou saber o que eles tavam pensando quando chegaram naquela conclusão, porque eles decidiram estudar aquele tema e se eles se sentiram hipócrita como eu, escrevendo aquele livro/artigo.

E o pior vem depois. Pra mim, o pior MESMO é continuar chamando de monografia, enquanto calo as milhões de vozes que gritam dentro de mim. Vozes de pessoas que - aí sim - eu já vi mais gorda, mais magra, já olhei nos olhos e troquei infinitas ideias. Pessoas que estão tão dentro de mim que vão sair em cada verbo que eu ousar fazer ou conjugar e que eu não só não posso dar crédito como tenho que fingir que não estão ali.

São essas pessoas que estiveram comigo - mesmo que não saibam - em cada fase boa ou ruim da minha trajetória e que fizeram valer a pena. São essas pessoas que sonharam comigo um mundo melhor e diferente e são delas que eu lembro com dor quando penso que não vou fazer nenhum dos dois com essa monografeia. São essas pessoas que eu queria carregar numa foto de bolso e mostrar todas as vezes que alguém me pedir meu diploma (que eu nem sei se vai servir pra alguma coisa pra mim no fim das contas). São essas pessoas que eu carrego com o orgulho do sucesso conquistado.

Me pergunto se essas pessoas também não carregam essa frustração burocrática também. E se carregam, o que é que elas fazem com isso?

Meu mochilão parecia pesar muito menos. E eu me pergunto se algum dia vou conseguir me despir de todo esse peso pra carregar só ele mais uma vez que seja.

Me pergunto se vou voltar a ver o brilho dos olhos dos seres depois de ter as vistas quase que cegadas por 6 meses diretos de um brilho artificial da tela do computador. É, desse mesmo brilho que vos fala agora.

Me dói cada palavra escrita em que não me encontro, cada expressão que não me representa e muito menos me expressa. E dor essa que me imponho pra conseguir formar. Pra conseguir caber num fôrma que não me cabe e que eu nunca quis, por querer sempre ser maior que os limites que os outros me propõe.

Me limito sem limites no momento. Limito meu tempo, limito meu sono, limito cada passo, cada cerveja, cada distração. Limito cada sentimento e limito até os limites pra não pirar e, com isso, correr o risco de não me impor mais limite nenhum.

O único sentimento que eu tenho é um vazio calculado pra não sentir antes do tempo certo. A academia nunca acreditou na emoção mesmo e eu não sinto nem mais o processo de racionalizar mais sobre o que eu sinto. Se sentir é perigoso, viver é ainda mais, já diria ROSA, Guimarães.

Então não vivo. Porcamente eu sobrevivo. Há em mim algo de não-vida típica do robô que, mais uma vez vos fala e sublinha de vermelho cada palava que eu ouso inventar fora do vocabulário dele.

Postergo a minha felicidade pra quando essa história toda acabar. E seria tranquilo se eu tivesse a certeza de que quando ela acabasse seria mesmo o fim. Fica o pânico de estar sempre postergando essa tal felicidade - pra depois do expediente, pro fim de semana, pras próximas férias, pra aposentadoria.

Me formo uma cientista social con-formada com honra ao mérito, pra desmérito meu. Faço o favor de me adequar ao sistema sem que o sis-tema com a minha presença dentro dele. Implodir, nesse momento, só se for a mim mesma por não aguentar a pressão.

Mas aí vem Durkheim, chama isso de anomia e nem a morte eu tenho de minha mais.

Tenho só a morte lenta do leão de cada dia, a morte sufocada de cada sonho não realizado no período do acordodado. Do acordo que eu nunca fiz, do contrato social que eu não assinei e, cujo social, eu não concordei em burocratizar.

Tenho, enfim, a morte cerebral do eu sentimental que aguarda, em coma, e sem calma, a esperança de voltar a vida quando isso tudo acabar.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Pra ser Ipê

No trânsito do dias-há-dias é o Ipê-amarelo que tem florido meus dias pelo caminho, me lembrando que tem algo de cor entre o cinza da cidade.
É ela também que tem me feito pensar sobre muitas coisas, e é também por isso que escrevo.
Em primeiro lugar, por ser amarelo. A cor amarela, ao mesmo tempo que representa energia e vitalidade, é a cor que representa "atenção" no sinal de trânsito. O estudo das cores também alerta para que o excesso de amarelo pode causar distração e ansiedade.
Sempre associei a minha personalidade cores alegres como o vermelho, o laranja e o amarelo. E ultimamente tenho sentido muitas dificuldades de repensar o excesso do amarelo na minha vida e tentar trazê-lo para o signo da atenção. Do ato de desacelerar.
Além disso, estou tentando ser Ipê. Ipê é uma árvore e, como tal, é fixa. É da natureza da árvore ficar no mesmo lugar toda a sua vida e, mesmo assim, florescer e se perpetuar. Essa sou eu tentando encontrar dentro de mim mesma a minha parte árvore e procurar florescer mesmo estando estagnada no mesmo lugar enquanto é tempo de estar assim.
Mas, mais do que isso tudo, tenho tentado ser Ipê, por sua característica especial (e, porque não, seu charme). Ela tem tempos distintos. Para o Ipê, há tempo de folha, há tempo de flor e há tempo de seca, em que só se vê no Ipê galhos tortos e secos. Tenho tentado olhar pro Ipê e saber que, para além desse tempo estranho que eu venho vivendo, há em mim, em algum momento passado e futuro, o meu tempo de florescer.
Quem é brasileiro e conhece o Ipê desde pequeno sabe que, na época certa aquela árvore feia e sem-graça vai ser só flor e só cor e todo mundo por aqui ama o Ipê. E, ultimamente tenho agradecido ao universo a sorte de ter por perto (ainda que seja um perto de um oceano de distância) pessoas que se esforçam pra me convencer que, como um ipê, eu vou florescer de novo,na primavera seguinte, mesmo me sentindo seca e torta no momento.


Pra ser Ipê, é preciso saber,
Que equilíbrio não está em ter
Tudo ao mesmo tempo.



Pra ser Ipê, é preciso entender
que há tempo pra plantar
e tempo pra colher.



Ser Ipê é ver,
que é preciso se conhecer
e simplesmente,
ser.