sexta-feira, 17 de abril de 2015

Filosofia da Saudade

A saudade sempre esteve na minha vida, com tantas cores e formas...
E eu a senti muito presente, às vezes conhecendo até um novo lado dela, percebendo que já sentia esse novo tipo de saudade há muito tempo, só não sabia que nome dar.
Há a saudade clássica, de quem se foi, dividida em duas categorias: a mais doída, de quem se foi pra nunca mais voltar e aquela que acompanha a expectativa do reencontro.
Há a saudade de um tempo bom, e até de coisas pelas quais se tinha carinho, que marcam esses tais tempos bons.
Ainda, saudades muitas vezes difíceis de assimilar e nomear, mas algo como a saudade daquele momento perdido, a saudade de tudo o que eu não vivi, a saudade dos lugares que eu ainda não visitei - até porque não só porque eu nunca tive que eu não vou sentir a dor da perda, ora!

Em 2013 eu vivi aquilo que chamei de 'saudade coletiva': é quando quem está longe é você, portanto sente saudade de tudo e todos, quando morei em Portugal por 6 meses. Lá conheci gente do mundo inteiro e conversei muito sobre saudade. Era um sentimento que estava sempre por perto naquele momento. Me impressionava o fato de que as pessoas que não falavam português não tinham em seu vocabulário a palavra saudade. Tinham expressões próximas para alcançar esse sentimento: 'Tu me manques", "Nostalgique", "Te extraño", ou "I miss you". Literalmente essas palavras remetem mais ao sentimento da nostalgia, ou do 'sinto sua falta'. E eu tentava explicar: "Nostalgia não é saudade."; "Sinto sua falta não é saudade"!
Brincava comigo mesma dizendo: 'saudade é coisa de brasileiro mesmo'.
Claro que os estrangeiros sentem saudade e tem recursos próprios para expressar esse sentimento. Mas foi impossível não vincular a 'saudade' à uma característica típica da cultura brasileira - molda e é moldada por ela.

Fiquei tão curiosa sobre o fato que voltei determinada a estuda a saudade. Fazer um artigo sobre. Cheguei até a tentar pesquisar e catalogar quantas músicas brasileiras trazem o verbete em alguma estrofe. Sem êxito na missão, larguei pra lá: Mas posso dizer, com segurança que são muitas! E até hoje, pelo que já vi e vivi, ninguém vive a saudade como nós, povo tupiniquim. Nunca fiz uma pesquisa sobre - e ainda bem que isso não é um artigo científico -, mas sei. Sei e sinto.

Acontece que a saudade é um sentimento misto por excelência. Mistura o doce e o amargo, o amor e a distância. É o sentimento híbrido de nostalgia e esperança que preenche um coração marcado pela falta. Talvez seja por isso então que a saudade combina tanto com o povo brasileiro: Somos um povo misto de nascença!
Sentimento também marcado pela temporalidade, nessa mistura que é só dele. É um sentimento do instante presente que, no entanto, só existe pelas marcas do passado. Se considerarmos ainda a esperança do reencontro que esse carrega, temos o tempo futuro evocado pela saudade, sensação forte e nem tão fácil de entender.

Talvez seja por isso que a saudade me venha como um sentimento tão confortável, apesar das dores que já me causou. Por me confortar nesse processo de ser em transformação que somos todos, mas que me alcança com mais intensidade, por ser alguém que busca essa transformação. Nessa natureza viajante que não consigo abandonar, de metamorfose ambulante, que eu prefiro ser (como diria o Raul)

Foi essa mistura doida e intensa que me atingiu ontem. Vivenciando mais uma vez a saudade coletiva, longe de tantos que amo e tantas experiências que amei ter vivido, recebi um presente sem preço! Meio presente, meio passado e muito futuro! Pelo menos foi o que disse meu grande amigo, companheiro e namorado Marcelão, quando explicou o objetivo desse presente: ter fé no futuro e em coisas sempre melhores, que com certeza virão. Para nós. Bonito e complexo como a saudade, esse presente de fato deu fé: fé no passado, de como todos esses amores que me trouxeram até aqui me fortalecem e me dão a certeza de que tudo valeu a pena. Me fez ter fé no presente, por me ver extremamente grata, de ser quem eu sou, de estar onde estou e de não faltar ninguém: estar com alguém que além de ombro-amigo e porto-seguro, consegue compreender a boniteza e a complexidade disso tudo; e me faz uma surpresa dessas!
Surpresa que me faz olhar pra frente, depois de várias espiadas no passado, na certeza de que sim, o futuro carrega pra mim, o melhor da vida. Afinal, se tudo o que eu tenho é resultado do que plantei no passado, vejo o ciclo me permitindo, no futuro, um tempo de gratidão por esse presente que ainda não passou; Sementinha de coisas boas que planto enquanto me satisfaço com a fartura da colheita de agora, de tantas sementes já cultivadas.

Um milhão de obrigadas a quem fez parte disso, todo mundo que mandou alguma coisa, mesmo que tenha sido em formato de bons pensamentos, porque o tempo às vezes trai a gente!. E um agradecimento ainda mais especial à semente que, mal plantei e já me rende os melhores frutos, brincando de ser essa ponte linda entre minhas saudades, alegrias e esperanças; entre as conquistas do passado, as emoções do agora e as esperanças pro futuro!
Gratidão povo, gratidão mundo! Gratidão eterna!

Nenhum comentário:

Postar um comentário