terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Clichê

Nunca fui boa em gravar rostos. Minha memória se restringe a músicas, momentos, números de telefone.
Mas o seu eu nunca esqueci, de nenhum detalhe. Mais do que pelo tanto que você foi especial pra mim, seu rosto sempre me soou tão clichê, tipo ideal de um personagem extremamente duro, mas doce, sábio e cheio de amor-não-explícito pra dar.
Lembro do cabelo - se ainda grisalho somente por alguns fios escuros que resistiram ao descolorimento -, tão bem penteado para trás, claramente por pente bem fino e preciso.
Lembro do rosto, num enrugado que exigia respeito, e bronzeado, dos muitos sóis já vividos.
Lembro da roupa, social, sempre tão impecável, mesmo nos momentos mais doloridos do fim da vida.
Nunca vou esquecer do bigode, tão perfeitamente desenhado, combinando com a barba bem feita. A impressão que eu tinha quando pequena é que de pêlo facial, só lhe nascia o bigode, nunca a barba.
Lembro da sua risada contida, dos ossinhos saltados, frágeis, contrastando com sua aparência firme.
Talvez a única coisa que eu mudaria seria o cigarro no canto da boca. Substituiria, talvez, por um cachimbo, ou um cigarro de palha. Mas não tiraria aquilo que te fez tão mal, no fim das contas.
Acho que o que eu achava mais bonito em você era a composição perfeita de tudo isso que fez de você o meu clichê preferido.

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