domingo, 27 de março de 2011

Zapeando

Domingo à noite. Cansaço, preguiça, sofreguidão. Aquela coisa de sempre, de domingo.

Marasmo. Sem amigos, sem família, sem amores. Mas nada de muito dramático, só era domingo, e assim são os domingos.

Cheio de coisas pra fazer pro serviço, alguns hábitos de higiene um pouco abandonados, mas nada iria fazer com que saísse dali. Era aquela conhecida hora da semana de deitar no sofá, meio de lado, e passar pelos canais como se isso fosse ajudar as horas as passarem também.

Pois sim, estava ali a zapear. E eu sempre achei estranha essa palavra, ‘zapear’. Mas mais estranho ainda é existir um verbo para a ação de mofar algumas horas no sofá, sem se mexer e sem assistir nada de verdade. É como existir um verbo para o vazio de domingo que nos faz pensar em todas as coisas que não queremos pensar e nem sabemos bem porque não queremos pensar naquilo.

E é por isso que ficamos a zapear. A programação de domingo já é uma bosta por si só, e quando não se quer pensando em nada então... trocamos de canal como trocamos de pensamentos, mas a diferença é que ainda não inventaram uma televisão que faz aparecer os programas que precisamos assistir para não encontramos com nós mesmos e nossos problemas.

Até porque, voltando à nossa história é domingo. E depois de domingo temos segunda, terça, quarta... E aí vem a sexta, vem o sábado e tudo fica melhor de novo.

Quem quer passar uma semana péssima (quem sabe um mês, ou ano?), cheio de sentimentos angustiantes e pensamentos deprimentes só porque não soube zapear direito?

E no fim das contas as coisas são assim: semana de obrigações, sexta e sábado de curtição e domingo de zapeação. E começa tudo de novo. E de novo. E fora algumas variações e tribulações o tempo corre seguindo essa linha. E eu não estou julgando, nos condicionamos porque é bom, é fácil. E sem querer entrar aqui em divagações sobre o ser fácil e o ser certo, fácil é bom e ninguém pode negar.

Ou não haveria o verbo zapear, nem tantas aplicações para ele.



[Voltei a escrever textos em parceria com Hélio! Vai lá visitar o blog dele vai? http://elho2.wordpress.com/]

2 comentários:

  1. Pois sim, estava ali a zapear. E eu sempre achei estranha essa palavra, ‘zapear’. Mas mais estranho ainda é existir um verbo para a ação de mofar algumas horas no sofá, sem se mexer e sem assistir nada de verdade. É como existir um verbo para o vazio de domingo que nos faz pensar em todas as coisas que não queremos pensar e nem sabemos bem porque não queremos pensar naquilo.

    Esse parágrafo vale o mundo, de tão bom! Emocionante!

    ResponderExcluir
  2. Acho isso uma droga, ter de zapear. Parece imposicao do destino, e tudo que me parece imposto me parece algo digno de opor resistência, só pra tentar. Maldicao de domingo, é como eu chamo, já que eu sempre tenho programas marcados que sao consistentemente desmarcados no momento perfeitamente em cima da hora pra que o dia se torne um dia zapeável.
    Mas enfim, tomando um tempo pra comentar que seu post ficou pra variar muito bem escrito e fodao, sou fanzao!

    ResponderExcluir