sábado, 7 de setembro de 2013

Porcos decapitados

Em algum lugar desse Brasil maravilhoso e cruel existem vários porcos decapitados.
Só que esses se esqueceram de morrer.
Eles ficam por aí, rondando, sangrando, fétidos, se esfregando em quem passa e esfregando na cara de quem passa que a vida não dá pra ser boa pra todo mundo.
É horrível. É a versão material da metáfora da desgraça. É um mau-agouro de um tempo que já chegou.
E que não perdoa.
Caiu no meu colo a cabeça de um desses tantos porcos. Eu quis fugir, correndo, mas eu só consegui devorá-la e carregá-la debaixo do braço, pra cima e pra baixo.
Alguma coisa dentro de mim parecia querer que todo esse esforço, fosse ajudar esses porcos. Não salvá-los, porque isso parece impossível, mas pelo menos ajudá-los a morrer em paz.
Mas é claro que isso não iria acontecer.
Só que eu continuava a me agarra àquela cabeça, como se ela fosse um salva-vidas.
Carregá-la, surpreendentemente, era menos dolorida do que esquecer que esses porcos existem.
ou sei lá, ter que fingir que eles não existem, para conseguir sobreviver em paz.

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