quarta-feira, 2 de junho de 2010

Arco-iris em frangalhos

- Ei, Stuart!
- Ei, Paul. É Paul mesmo não é?
- Sim. Qual é o nome do livro que você citou na aula esses dias mesmo?
- A Ira dos Anjos. É realmente bom.
- Ok, obrigado.
- Achei que ninguém tinha prestado atenção no que eu disse...
- Eu sempre presto atenção no que você diz. Até demais! Mas agora isso vai mudar, isso tem que mudar. Tchau.
- Ei, espera. Do que você está falando?
- Estou falando que te amo. E que cansei de viver essa mentira. Cansei de escolher as melhores roupas pra vir nas aulas em que você está e você nem saber meu nome direito. Peço desculpas por chegar assim e te falar essas coisas do nada, mas já tentei te esquecer antes e assim, como simples decisão já vi que não dá. Eu tinha que te falar isso ou ia pirar nessa história de te querer calado.
- Mas como assim?! Eu nem sabia da sua opção sexual.
- Pois agora sabe, e não faz a menor diferença. Eu também não sabia até te ver, ouvir você falando e te imaginar a cada segundo proibido. Vou atrás de quem me queira. E vou aprender a querer essa pessoa também, pra conseguir assassinar cada suspiro doloroso que você me causa.
- Caramba, mas isso nunca aconteceu comigo, nem sei o que dizer. Porque você não se declarou antes de simplesmente desisitir?
- Eu teria alguma chance?
Ele simplesmente abaixou a cabeça envergonhado. Não era preciso dizer mais nada.
- Pois então. Não se preocupe em dizer nada, não te culpo nem um pouco. Eu sei o quanto você é lindo e interessante e parece saber de tudo, enquanto eu sou só mais um. E não vou ficar aqui me lamentando com essa historinha de que você é o máximo e eu não. A gente nunca daria certo. E é melhor que não precisemos nem tentar pra ter certeza, pra podermos conviver com a ilusão do 'quem sabe'. Vou me virar agora, pronto pra te esquecer. Vou achar alguém, vou parar de olhar seu orkut e obrigar meus lábios a não sorrirem quando imaginar você. Anda vou olhar pra você durante a aula inteira, mas como você agora sabe, quando você retornar o olhar eu desviarei. E assim será mais fácil. O amor eu acho que nunca terá fim. Mas essa fissura tem que passar. Adeus!
Respirou fundo. Mais fundo que seu pulmão aguentava, o que o fez tossir e aumentou a quantidade de lágrimas nos seus olhos. Virou-se e quis correr, mas se arrastou até a escada.
O outro permaneceu ali abobalhado. O que acontecera seria ridículo se não fosse tão sério. Nunca tivera uma experiência tão intensa e verdadeira na vida. E isso mudava tudo.
Mesmo que não mudasse nada.

2 comentários:

  1. Título muitíssimo apropriado, texto interessante. Me pego pensando nos Pauls e Stuarts por aí...

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  2. Foi panacéia por uns instantes...

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