sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A pedra mais alta

Às vezes eu fico me perguntando como as coisas se sentiriam se pudessem sentir.
Por exemplo, uma caneta, sendo sempre pressionada, pra se gastar com facilidade e ser deixada de lado, penso que não seria muito bom. Ou um livro, será que ele ansearia por ser aberto e trasmitir conhecimento, ou será que ele ficaria de saco cheio, afim de ficar em paz em uma biblioteca qualquer?
Penso mais ainda sobre aquela pedra (ou seria rocha?) mais alta e mais extensa, próximo da praia. Ela fica ali, parada e firme, pronta pra receber qualquer visitante um pouco mais aventureiro com uma máquina na mão. Ser essa rocha deve ser torturante. Ela fica ali, aguentando todas as pisadas, todo o peso de todas aquelas pessoas, que vêm, fazem suas poses, tiram suas fotos e depois se vão, sem sentar na pedra, sem refletir sobre a sua importância ali, sem ter consciência do peso que ali deixaram. Me pergunto se essa pedra nunca tremeu sobre um peso maior, e aposto comigo mesma que já. Afinal, são muitos passando por ali sem parar.
E o que eu penso que é pior não é nem suportar tanto peso. É suportar e ponto, estar ali pra isso. Porque, depois que as pessoas vão lá, tiram fotos, curtem um pouco o visual, elas partem apressadamente. Elas querem ir pro mar, elas foram a praia pra ver o mar, como comparar mera pedra quando se tem o mar? Então eu acho que isso é o mais difícil... Suportar todas as coisas enquanto o mar que leva o crédito. A pedra não tem nada de seu. Talvez o mar também não, mas a gente consegue perceber a diferença não é?
E aquela pedra vai ficar ali, segura, forte, pronta pra satisfazer os desejos de quem vier a passar por ali, mas sempre vai ficar olhando o mar enquanto nao houver ninguém lá em cima. No fundo, eu acho que ela compreenderia a sua importância. Ela saberia que ela proporciona momentos únicos e que as pessoas realmente esperam que ela esteja ali, firme e imponente, para suportá-las, para alcançar uma visão linda da praia e com isso, talvez, um pouco de paz. Mas isso ainda não é o suficiente. Acho que ela continuaria ali pra sempre, mas sempre pensando em como seria se um dia simplesmente caísse e virasse um pouquinho de mar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário